quinta-feira, dezembro 29, 2005

Ideias toscas

Começava a ficar tarde. A ideia de aparecer à porta dela sem avisar e sem dizer nada começava a me parecer um pouco mal concebida.
Estava a começar a pensar que mandar um sms poderia ser uma boa ideia quando uma luz se acendeu no andar certo. Seria a casa dela? Seria outro apartamento? Será que ela ainda ali morava?
Momentos depois outra luz se acende. Janela acesa, janela apagada, janela encarnada. Era a casa certa.

Saio do carro. Avanço para porta do prédio e toco no botão. Espero uns momentos e nada acontece. Volto a tocar. A porta abre. Avanço a medo para a frente. Chamo o elevador. O coração bate que nem um louco enquanto vou subindo subindo.

Quando chego ao sexto andar a porta C já está aberta. Era ela que estava á porta de braços cruzados e olhar espantado.

- Por aqui? Que fazes tu nesta cidade coimbrinha?
- Olá "#$%&. Estou aqui para ...... Não me convidas para entrar?
- Entra, entra.

Sentados no sofá, uma cerveja na mão.
- Então rapaz que te deu para aparecer assim?
- Cheguei hoje de manhã de &(/%&".
A cara estranha que fazes coloca-me em sentido.
- Pois, tu não sabes. Eu estive os ultimos meses em &(/%&" a estagiar. Tenho agora a defesa dentro de uns dois ou três dias e depois acabou o curso.
- Pois, eu nao sei mesmo nada de ti.
- Desde que naquele fim de ano não nos vimos resolvi fechar o coração e as formas de contacto. Acabou o msn, o skype e os blogs.
- Pois, eu senti que me querias fora da tua vida.
- Foi um ano e meio complicadotes. O curso e o estágio lá fora.
- E nada de namoros?
- Nada. O coração ficou pelos bares de Lisboa por isso. E tu? Que tal anda isso?
- Mais ou menos.... Nada no coração..... Estou a trabalhar numa empresa de consultoria. Abandonei a psicologia infantil e ando pelos recursos humanos.
- Hehe, tive então uma colega tua a me testar hoje na &/%/&$, começo a trabalhar lá daqui a três semanas.
- O coimbrinha em Lisboa?
- Nunca te consegui fazer sair de Lisboa por isso vim para cá ter contigo!
- ........ Pensas que é assim? Um ano e tal sem me falares. Sem me responderes aos mails nem atender o telefone.
- Eu nunca te esqueci.
- ....... Mas eu....... Sai daqui $!"/!%= !

Os olhos dela estão tristes! Sem saber o que dizer acabo por me levantar. Vou lentamente para a porta e sem olhar para mim diz-me adeus.
Volto para trás e agarro-a pelos ombros. Sinto-a fraca.... Puxo-a para mim e não a largando abraço com mais força ao a sentir empurrar.

- Não $!"/!%= ! Eu não quero isto!
- Que isto? Não existe isto! Existiu um passado em que estivemos separados. Estou aqui e vou aqui estar. Vai ser diferente..... Vai ser melhor!
- Não acredito......
- Claro que acreditas.

O beijo que trocamos foi como uma barragem que rebentava nas chuvadas de inverno. Tudo o que tinhamos sentido naquele ano e meio separados veio em torrente. Em minutos/segundos/horas estamos naquela cama só nossa. Naquele quarto só nosso. A partilhar aquilo que é só nosso e que damos um ao outro.

Existem fantasias que podemos escrever. Desejos que podemos colocar em "papel". Existem tentações e pecados que podemos imaginar como os melhores do mundo. Mas os momentos que eu partilho com ela são mesmo do outro mundo. São a coisa melhor que se pode sentir.

A forma como quando sentada na minha cara, agarrada aos varões da cama se desliga do mundo e me entrega o cuidado com o seu corpo: "Estou em casa. Estou aqui. Estou contigo. Cuida de mim."

A forma como depois qual serpente chama o meu corpo á vida. Insaciável desejo de partilha e de amor. Quer sempre mais. Quer sempre a minha presença.